Médica Dermatologista fala sobre Farmácias de Manipulação
Decidi escrever sobre o assunto em questão devido à “frequentíssima” pergunta no meu consultório: “Manipulação funciona?”
Assim, o assunto hoje é esse: Farmácias de Manipulação.
Quando ouço no consultório a pergunta acima, respondo da mesmíssima maneira que vou escrever aqui. Sim, manipulação funciona.
O que ocorre, principalmente aqui no Brasil, é na verdade um desvirtuamento desse serviço.
As pessoas enxergam a farmácia de manipulação como uma maneira de baratear custos.
Ou seja, tentar fazer uso “daquele” medicamento/creme/dermocosmético pagando menos.
Acontece que esse não é nem nunca foi o objetivo e a função da farmácia de manipulação.
Esse tipo de serviço existe para que se possa personalizar o tratamento do paciente.
Explico: paciente precisa do medicamento X que só existe em comprimidos e por algum motivo não pode engoli-lo.
Pedimos à farmácia que manipule o principio ativo em xarope.
Paciente tem indicação do uso de produtos com Vitamina C, tem pele oleosa e os dermocosméticos disponíveis não apresentam veículos compatíveis com esse tipo de pele.
Pedimos à farmácia que manipule um sérum com Vitamina C, E por aí vai.
Não estou dizendo que as pessoas que usam a farmácia de manipulação para baratear custos estejam erradas.
Só estou explicando que essa não é a função primordial desse serviço.
E exatamente pelo uso excessivo da farmácia de manipulação como barateador de custos, isso vem sendo esquecido, o que realmente é uma lástima.
As grandes indústrias investem pesado em pesquisas e novas tecnologias. Isso é inegável.
Mas as farmácias de manipulação, pelo menos na área da dermatologia, também investem muito na qualificação dos profissionais que lidam diretamente com a formulação.
E muitíssimas vezes, os ativos são comprados dos mesmos fornecedores da grande indústria.
Nesse caso cabe ao profissional prescritor conhecer as farmácias e farmacêuticos para saber quem trabalha sério nesse ramo, como em qualquer outra área que se queira construir uma boa network.
Mas o que mais encanta nessa história é a brincadeira de alquimia.
É poder escolher de acordo com cada caso, cada paciente, cada queixa um tratamento diferente. É poder brincar de bruxa boa, aquela que transforma em príncipe – não em sapo, ok?
Se eu não prescrevo produtos prontos? Claro que sim!
Quando o que quero já existe pronto no mercado, prescrevo pelo nome comercial. Por que dificultar?
O que acontece, principalmente na área estética, é que muitas vezes não encontro o que eu gostaria de prescrever para minha paciente ou encontro com uma concentração de ativos muito pequena, devido a normas da Anvisa.
E já aconteceu também de prescrever medicamentos não manipulados simplesmente porque a paciente não quis o contrário.
Por isso também resolvi escrever esse post. Para tentar esclarecer um pouquinho sobre essa aliada que temos.
Manipular prescrição, quando indicado, não é ” chinelagem” (escrevo isso porque já ouvi esse tipo de comentário, assim, nu e cru).
É uma alternativa para otimizar o tratamento e fazer o que se julga melhor (e não pior) para o paciente.
Abraços grandes!
A informações são de Raíssa Londero Chemello
Médica Dermatologista – CRM 27193 Mestre pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS)